Sexta-feira, 25 de Maio de 2007

Minha terra revisitada II

 

“Outra vez te revejo,/ Cidade da minha infância pavorosamente perdida…/Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…”

Lisbon Revisited - Álvaro de Campos

 

Outra vez, Funchal

eis-me aqui, aliciadas à tua luz

desenhada em teus contornos

mesclada às pedras de tuas ruas

cantando na voz da tua (minha) gente.

Estamos mais velhas

e a idade deixa-te mais bela

debaixo dessa luz lilás que muda, muda

ao entardecer desta tarde de quase Outono.

Esta luz, esta luz, esta luz

Feitiço, centopeia de mil patas

em minhas noites insones e febris.

estamos mais velhas, eu mais triste

(minha tez escureceu em climas tropicais…)

ramagem cobrindo muros da infância

Avara, mordo tua presença

pero verde, já sabendo a saudade

e sei que não há lógica neste amor

- os poetas são sempre ilógicos.

não se ama a própria mãe simplesmente por ser mãe

mas pelos símbolos que nos cravou

marca indelével de amor e posse.

Outra vez Funchal

a centelha arde e cintila

avermelhando as marcas e os signos.

A tua luz é teia que enleia

caleidoscópio enlouquecido

em cortejo de arco-íris.

E vejo-me outra vez

a correr entre papoulas e trigais

Saloia sem bandeira nem divino

fascínio, de sangue e ouro.

Eis-me aqui, como Pessoa

sonhando outra vez…

 

VERAS, Dalila TelesMadeira: do vinho à saudade. Funchal: José António Gonçalves, 1989. p.14.



publicado por BMFunchal às 03:51
Gostaria de indicar o Blog Revista Lusofonia com o artigo da escritora Dalila Teles Veras, sobre a Lingua Pátria: http://revistalusofonia.wordpress.com/2009/08/17/a-lingua-a-patria-possivel/

Fabíola
Fabiola a 28 de Agosto de 2009 às 16:56

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