Terça-feira, 30 de Outubro de 2007

Folheando a obra O Funchal no primeiro quartel do Século XX, deparamo-nos com um artigo curioso que aqui transcrevemos.

Tipos populares madeirenses

 

“ Entre 1900 e 1925, viveram no Funchal, vários tipos populares, entre eles os seguintes:

 

“Adelaidinha” – Mulher muito cumprimentadeira faladora e serviçal, defeituosa duma perna. Vivia da generosidade pública.

“Conca” – pessoa muito conhecida pela sua popularidade, praticante de actos que provocaram riso nos transeuntes. Permanecia em diversos locais com mais frequência no Largo de São Pedro, onde se abastecia de água no fontanário daquela artéria.

“Germana” – Percorre uma grande parte da sua vida com a cara vendada com um tecido negro, por motivos de amor. Nos últimos anos da sua existência viveu da generosidade pública, tendo falecido numa casa de caridade, onde se achava internada.

“Roberto” – Indivíduo muito conhecido pelas constantes e estridentes gargalhadas, que dava a troco duma moeda de vintém.

Empregava-se na distribuição de água em potes, recipientes de barro muito usado no serviço doméstico.

O “Roberto” servia-se de água do antigo chafariz no largo do mesmo nome que mais tarde foi substituído por um fontanário no Beco de São Sebastião e das Fontes de João Dinis.

“João p’ra Rua” – pessoa que se irritava frequentemente quando lhe dirigiam cumprimentos, chegando a proferir palavras obscenas.

Empregava-se também no transporte de água para diversos estabelecimentos e outros serviços corriqueiros.

“Papa-a-béca” – Indivíduo que era convidado para efectuar cerimónias aos santos populares, no bairro de Santa Maria.

Era grande animador dos novenários de Santo António, São João e São Pedro, que se realizavam em casas particulares, proferindo vários sermões.

“Dona Maria” – Senhora demente, que percorria várias casas abastadas, pedindo artigos de vestuário.

Apresentava-se decentemente vestida, trajando chapéu, luvas e carteira.

Desfazia-se em cumprimentos e conversa com crianças, dando-lhes “bons conselhos”.

Faleceu depois numa casa de caridade.

“Mestre José do Monte” – Passou parte da sua vida com os cabelos compridos, aconselhando a toda a gente que não os cortasse.

Fazia discursos publicamente.

Era natural da freguesia do Monte.

“Padre João” – Indivíduo anormal que se empregava na venda de lotarias.

Muito conservador fazia-se passar por pessoa bem sabedora e inteligente.

“ A Venena” – Mulher de vícios alcoólicos. Tornou-se pedinte para entregar-se melhor a esse vício. Uma vez embriagada provocava escândalos na via pública.

A sua bebida predilecta era aguardente e, segundo se notava, preferia da “amarelinha”.

Morreu devido aos efeitos desastrosos do álcool.

“ A Camarada” – percorria as freguesias suburbanas em passo militar e munido duma espingarda que não disparava.

“O João” – Indivíduo anormal. Era frequente vê-lo nas igrejas sentado com um volumoso livro de missa.

Apesar de analfabeto ia “lendo” o livro no decorrer de cerimónia.

Trajava de calça curta e de camisa comprida mantendo uma farta cabeleira.

Quando fingiam arrebatar-lhe o livro das mãos ou um pequeno bordão que trazia debaixo dos braços, saia-lhe logo dos lábios um grito ronco, que algumas vezes atemorizava as crianças.

A igreja que mais frequentada era a Sé Catedral.

“Josezinho” …pum…pum.

A troco duma moeda ou dum cigarro “Josezinho”, assim era o seu alcunha, obedecendo às ordens que lhe davam na via pública fazia o submarino a disparar fogo em altas vozes: pum…pum…pum.

Na ocasião em que dele fazemos referência, “Joãozinho” é vivo, ainda, e está internado no Asilo dos Velhinhos.

“Pedrada” – “Músico” excêntrico, organizador dum grupo de tocadores conhecidos pela “Música do Pedrada”. Era constituído apenas por dois tocadores, sendo um o “Pedrada” e outro um seu amigo predilecto que todos os dias se reunia para percorrer algumas ruas da cidade e se dirigir aos arraiais em boa “harmonia”.

Os instrumentos usados por esse pequeno elenco musical eram uma rabeca e um simples machete, sujeitos muitas vezes a uma irritante desafinação.

Quando os tocadores se travavam de razões terminavam por se entenderem depois, amigavelmente, executando o “Hino da Sociedade”.

“Creca das Fontes” – Era um indivíduo que prestava serviços eventuais nas Fontes de João Dinis e que se popularizou pela sua careca e maneira rudes como se apresentava em público.”

 

 

CALDEIRA, Abel Marques – O Funchal no primeiro quartel do século XX. 2ª ed. Funchal: Eco do Funchal, 1995.p.170-173.

 



publicado por BMFunchal às 13:59
mais sobre mim
Outubro 2007
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
24
26
27

28
29


links
pesquisar neste blog
 
subscrever feeds